TOC em crianças

TOC em crianças


Autora:  Dra. Gabriela Camargo, Médica Psiquiatra.

O TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) é um transtorno que acomete de 0,5 a 3% das crianças e adolescentes. Estudos mostram que 30-50% dos adultos com TOC tiveram início do quadro na infância ou adolescência.

O TOC é caracterizado por obsessões recorrentes, compulsões ou ambas, que causam desconforto ou interferência na vida do indivíduo.

A Associação psiquiátrica Americana (APA, 2013), propõe definições para os sintomas de TOC:

Obsessões
1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são experimentados em algum momento durante a perturbação, como intrusivos, indesejáveis e que causam acentuada ansiedade ou desconforto na maioria dos indivíduos;

2. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens, ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação (por exemplo, executando uma compulsão);

Compulsões

1. Comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (rezar, contar, repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser aplicadas rigidamente.

2. Os comportamentos ou atos mentais visam prevenir ou reduzir ansiedade ou desconforto ou prevenir algum evento ou situação temida. Entretanto, esses comportamentos ou atos mentais ou não são conectados de uma forma realística com o que pretendem neutralizar ou prevenir ou são claramente excessivos.

É importante ressaltar que tanto pensamentos obsessivos como comportamentos ritualísticos podem ser normais na infância e adolescência, dependendo do estilo e conteúdo nas diversas fases do desenvolvimento (como, por exemplo, rituais no banho e refeições, senso de simetria, colecionar objetos).

Portanto, para ser considerado um diagnóstico de TOC em crianças e adolescentes é necessário que as obsessões ou compulsões consumam tempo excessivo ou que exista prejuízo no convívio social ou no rendimento escolar do jovem.

O TOC é considerado um transtorno neuropsiquiátrico, onde a serotonina é considerada o principal neurotransmissor envolvido no transtorno.

O tratamento do TOC em crianças e adolescentes deve ser realizado inicialmente com Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Em alguns casos, pode ser necessária a associação da TCC ao uso de medicamentos para controle dos sintomas.

Um recente revisão demonstra que os medicamentos Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina ( Setralina, Fluoxetina, Paroxetina, Fluovoxamina, Citalopram, Escitalopram ) constituem primeira escolha no tratamento medicamentoso em crianças e adolescentes, já que se mostram seguros e bem tolerados e não apresentam efeitos cardiotóxicos. A Clomipramina (antidepressivo tricíclico), também pode ser usada, porém é segunda escolha pelo perfil de efeitos colaterais.

Cerca de 75 a 80% dos jovens com TOC apresentam outras doenças ( tiques, transtorno opositor e desafiador, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, depressão, transtornos de ansiedade, transtornos alimentares, entre outros), sendo essencial a avaliação psiquiátrica para que haja identificação e tratamento dos transtornos associados.

Referências bibliográficas

1. Tratado de Psiquiatria da Infância e da adolescência. Francisco Baptista Assumpção Jr, Evelyn Kuczynski, 2 ed, São Paulo, Editora Atheneu, 2012.

2. Pharmacological treatments for obsessive–compulsive disorder in children and adolescents: a qualitative review. Rosa-Alcázar AI, Iniesta-Sepúlveda M, Rosa-Alcázar A. Actas Esp Psiquiatr. 2013 May-Jun;41(3):196-203. Epub 2013 May 1.

3. “TOC” . Aristides Volpato Cordioli .2a Edição: Artmed, 2014.

4. Terapia cognitivo-comportamental com intervenção familiar para crianças e adolescentes com transtorno obsessivo-compulsivo: uma revisão sistemática. Juliana Braga Gomes, Breno Córdova Matte Analise Vivan , Ana Cristina Wesner Viana , Cristiane Flôres Bortoncello , Giovanni Abrahão Salum , Graziela Aline Hartmann Zottis. Rev Psiquiatr Rio Gd Sul. 2011;33(2):121-127

5. . Quality of life in adolescents with obsessive-compulsive disorder. Vivan Ade S, Rodrigues L, Wendt G, Bicca MG, Cordioli AV.Rev Bras Psiquiatr. 2013 Oct-Dec;35(4):369-74. Epub 2013 Dec 23.

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